domingo, junho 26, 2011

RESENHA: THE PARKING LOT MOVIE



O que acontece quando são colocados músicos preguiçosos, estudantes de pós-graduação e outras mentes criativas lotadas de testosterona em um trabalho onde nada lhes é exigido, exceto sentar lá e recolher o dinheiro dos clientes? Colocando dessa forma parece uma descrição do Clerks (filme do Kevin Smith de 1994), mas estou falando de um documentário que, de um olhar afastado, aparenta ter sido preenchido como o depoimentode pessoas aleatórias.
“The Parking Lot Movie” é um documentário sobre a rotina de trabalho dos funcionários de um estacionamento da região central da cidade de Charlottesville, Virgínia. Rotina essa que abarca longos trechos de calmaria, quando não acontece muita coisa, mas há, de vez em quando, uma explosão de atividade, na qual muitas vezes exige um pouco de atitude, pelo fato de frequentemente aparecerem clientes irritantes negando-se a pagar os centavos de dólar exigidos pelos serviços prestados.

O estacionamento Corner, empreendimento em questão, é situado em uma pacata cidade universitária (Universidade da Virgínia), onde existe uma mistura de classes que se atrita nas noites de dias úteis e na vida noturna do fim de semana. Este estabelecimento é apresentado ao espectador com uma dosagem interessante de absurdismo e intelectualismo por conta dos entrevistados. Em suma, o lugar tem personalidade. E o mesmo acontece com o filme. Percebo neste documentário uma pegada antropológica, pois a diretora Meghan Eckman utiliza-se da linguagem ausiovisual para realizar um registro documental que fornece dados que extrapolam os conceitos materiais de cultura de uma sociedade, no caso os funcionários e ex-funcionários do estacionamento Coner e o depoimento deles sobre o trabalho prestado, assim como sobre as pessoas que frequentavam o estacionamento . Neste documentário, encontramos símbolos identitários que servirão de referência sobre este determinado grupo de pessoas durante o tempo em que prestam serviço para este empreendimento.
Este documentário nos apresenta um grupo de excêntricos funcionários composto por estudantes de pós-graduação, filósofos, aspirantes a músicos, tipos artísticos e homens de meia-idade preguiçosos.

Chris Farina, o proprietário do estabelecimento, é um chefe amigável que descreve seus empregados como um grupo desorganizado de poetas fraturados que preferem skates e bicicletas a carros. O simpático proprietário consegue encontrar algum tipo de equilíbrio zen entre os seus funcionários e seus clientes. Chris dá a seus funcionários carta branca para liberar sua energia criativa em trotes contra os clientes
indelicados.
Nas entrevistas os atendentes discorrem sobre sua performance de não fazer nada, assim como o feito de ficar mesmo com o rude, que os clientes que os tratam como seres inferiores. A desconcentração gradual do entusiasmo ao ressentimento destas pessoas que desenvolveram um auto-conhecimento suficiente para perceber que o tempo que prestam serviço para este estabelecimento é um processo interessante. Na tentativa de distrair-se do marasmo e da ociosidade, os atendentes divertem-se de qualquer forma, escrevem mensagens aleatórias sobre o portão do estacionamento, compõem canções, e até mesmo inventam competições bizarras. O portão do estacionamento é uma tábua que é adornada diariamente, pelos funcionários com escritos sobre aspectos existenciais do estabelecimento e curiosidades da cultura pop aplicada ritualmente com stencils e tinta spray. A Rotina dessas pessoas engloba violões, jogos bizarros inventados por eles mesmos e inscrições de graffiti sobre o que significa a arte de tornar um atendente de estacionamento.
Em suma, esse tempo que passam por lá acaba trazendo a essas pessoas o que fazem de melhor. Eles prestam seus serviços, mas não precisam gostar do cliente. Para eles é indiferente se você é um advogado rico, um mauricinho bêbado ou imbecil de alguma irmandade: eles apenas te julgam pelo automóvel que você dirige e como você o estaciona. Eles vêem a deliciosa ironia de alguém dirigir um Cadillac Escala de 70.000 dólares, tentando desesperadamente apertá-lo nas fendas dos pequenos espaços de estacionamento e depois tentar barganhar para não pagar a taxa de US$4,00 do estacionamento. Eles poderiam explicar porque cliente tem que pagar, poderiam explicar os fundamentos do capitalismo, se quisessem, mas principalmente eles riem desse tipo de cliente.
Eckman criou um banco de dados coletando entrevistas destes atendentes que frequentemente são reclamações pontuando aspectos sobre sua rotina de trabalho, ocorrências do dia-a-dia e a natureza da humanidade. Esta atividade, por envolver o uso da imagem dentro de um processo de estudo da alteridade, integra-se no campo da antropologia visual, na medida em que um acervo de imagens é construtor da memória cultural e histórica destas pessoas. Através das entrevistas com ex-funcionários que se deslocaram percebemos em seus depoimentos que este tempo empregado ao estacionamento foi uma espécie de rito de passagem que lhes ofereceu uma perspectiva de Zen. Como um manobrista lamenta, “Tínhamos tudo em um mundo que não tinha nada a nos oferecer.” Percebemos nestas questões códigos do realismo, adaptados ao contexto das imagens igualmente encontrados em materiais produzidos no âmbito da Antropologia .

Bibliografia

BARBOSA, Andrea; CUNHA, Edgar Teodoro da. Antropologia e imagem. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editores, 2006.

Site

http://www.theparkinglotmovie.com - último acesso: 23/05/2011.
Filmografia
The Parking Lot Movie
FICHA TÉCNICA
Diretor: Meghan Eckman e Christopher Hlad
Elenco: - documentário -
Produção: Meghan Eckman
Roteiro: Meghan Eckman
Fotografia: Meghan Eckman e Christopher Hlad
Duração: 96 min.
Ano: 2010
País: EUA
Gênero: Documentário
Cor: Colorido
Distribuidora: Não definida
Classificação: 14 anos

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