quarta-feira, março 02, 2011

Este texto eu postei quando estava no segundo semestre da facu... Até que uma professora sugeriu que eu apagasse pois os semestres seguintes estavam realizando uma espécie de plágio ressignificado... Eu não teria apagado se não fosse por um comentário anônimo indelicado em outro post.
Bom, como vai fazer 1 ano que me formei, não me importo mais...
Decidi postá-lo outra vez. Quem quiser plagiar ou ressignificar tem a minha licença poética para tal, rsss... Apenas recomendo a leitura deste livro, em especial este capítulo, vale muito a pena.

Embreantes

A jornalista francesa, doutora e professora emérita de filosofia da Université de Picardie, na França, Anne Cauquelin é autora de ensaios sobre arte e filosofia, dos quais se destacam Teorias da arte e Aristóteles, e dos romances Potamor e Les prisons de César. É redatora-chefe da revista Revue d'Esthétique e artista plástica. No caso do livro "Arte contemporânea: uma introdução", é preciso levar em conta de que se trata de uma publicação de 1992 - portanto de 14 anos atrás - que reflete o pensamento de uma mulher européia. Anne Cauquelin propõe-se a introduzir ao público na primeira parte do segundo capítulo o termo "embreantes", explicando a arte contemporânea a partir de Duchamp, Andy Warhol e Leo Castelli.
Segundo a autora, o embreante é uma figura de ruptura entre o regime do consumo e o regime da comunicação. Os embreantes fazem referência a modos temporais, à conexão entre passado e presente, ou seja, considerados elementos de transição.
Os artistas que Cauquelin toma como exemplo estão situados historicamente na modernidade, mas são figuras que indicam mudanças de um regime e até hoje provocam o pensamento na atualidade. Segundo Cauquelin, "esses três personagens têm em comum o exercício de uma atividade que responde aos axiomas-chave do regime de consumo". Portanto, a autora os insere na arte contemporânea.
A autora explica que Duchamp, ao afirmar que qualquer objeto pode ser arte, desde que num determinado momento, fortalece o poder da instituição de arte, pois a partir de então "o lugar de exposição torna os objetos obras de arte. É ele que dá o valor estético de um objeto, por menos estético que seja". O valor não está mais na obra em si, mas no espaço-palco onde é exibida. O artista não é mais aquele que cria e executa: é apenas quem mostra, escolhe e utiliza o material, dando-lhe, segundo Cauquelin, um "coeficiente de arte". Há, portanto, um abandono da idéia de vanguarda e da figura romântica de artista: "o jogo da arte consiste em especular a respeito do valor da simples exposição de um objeto manufaturado". Os jogos de linguagem e de construção da realidade ganham importância. "Expor um objeto é intitulá-lo". Sendo assim, a arte deixa de ser emoção para ser algo pensado.
Andy Warhol, também classificado um embreante por Cauquelin, é um exemplo de artista que tratou arte como negócio (business-art) e soube usar muito bem sua rede de contatos para viabilizar sua empreitada. De desenhista de publicidade, Warhol transformou-se num empreendedor: viu a arte articulada à sociedade e ao mundo dos negócios. Warhol elegeu, enquanto proposta artística, os objetos de consumo para serem mostrados e reproduzidos em larga escala. Sua fascinação por tais objetos era tão grande que ele mesmo se transformou num deles: Warhol fabricou o produto Warhol. Seu nome, lembra a autora, passou a ser a própria obra que virou uma marca para diversos de seus empreendimentos artísticos: pinturas, filmes, fotografias, exposições, textos.
A autora afirma que diferentemente de Duchamp, para quem o "espaço" era o responsável por determinar o que era arte, Andy Warhol afirma que não é mais esse espaço físico (museu, galeria) que define algo, mas sim, o espaço da comunicação: a rede. O percurso desse artista, segundo a autora, ajuda a vislumbrar uma possível definição para arte contemporânea: um "sistema de signos circulando dentro de redes".
O terceiro embreante de Cauquelin, Leo Castelli, foi um galerista que, assim como Andy Warhol, a autora lembra que este usou a rede para viabilizar seu negócio internacionalmente. Castelli se utilizou de certos aspectos da rede de comunicação como o consenso, o bloqueio e a internacionalização, mas foi o domínio da informação que lhe ofereceu a condição para que se tornasse um profissional bem sucedido. Ao invés de estabelecer concorrência, firmou acordos com outras instituições globo afora, documentou todos esses procedimentos, criando uma imensa rede de relacionamentos e de informação. A autora nota que sua fórmula foi garantir o sucesso global dos artistas representados por sua galeria, pois, dessa forma, estaria garantindo também o seu próprio sucesso, num processo cíclico de investidas bem sucedidas dentro de uma concordância entre as principais instituições artísticas do mundo.


Bibliografia

CAUQUELIN, A. Arte contemporânea: uma introdução. São Paulo: Martins Fontes, 2005.