quinta-feira, junho 30, 2011

Abstracionismo geométrico e informal - a vanguarda brasileira nos anos cinqüenta.

O texto discutido nesta resenha foi escrito por Fernando Cocchiarale e Anna Bella Geiger. Cocchiarale é artista, Filósofo, crítico de arte, curador e professor. Atualmente, vive e trabalha no Rio de Janeiro atuando, como curador do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM RJ). Geiger também vive e trabalha no Rio de Janeiro. Atua como escultora, pintora, gravadora, desenhista, artista intermídia e professora. Sua obra é marcada pelo uso de diversas linguagens e a exploração de novos materiais e suportes.

No texto “Abstracionismo geométrico e informal - a vanguarda brasileira nos anos cinqüenta”, Cocchiarale e Geiger retratam historicamente movimentos, momentos e as mudanças no cenário artístico a partir dos anos 40, que se passaram no Brasil, onde também ocorriam mudanças políticas e sociais. O leitor pode melhor compreender parte do abstracionismo no Brasil através do mapeamento que os autores traçam sobre a polêmica dentro da vertente geométrica, concreta e neoconcreta e a vertente informal.

Os autores comentam que em busca da liberdade de representação, o abstracionismo chegou quebrando paradigmas que a arte figuratista criou e por isso houve divisão e grande estranhamento. Embora a luta fosse grande contra a nova corrente (principalmente dos modernistas como Di Cavalcante e Portinari), os argumentos figuratistas foram perdendo a força frente à realidade nacional e à proposta do abstracionismo (“novas formas de princípios novos”).

É sinalizado pelos autores que devido ao pós-guerra ocorrente no Brasil, a época não permitia uma arte fora da realidade, algo inconsequente, portanto, o problema em questão era a ruptura com o conceito de realidade. A partir do momento em que os abstratos abandonam a figura, abandonariam também a realidade não dando conta de representá-la como era esperado e confortável até então e isso vem de uma concepção e estado de espírito dos artistas e decorre na concepção social da vida. Com isso o autor afirma que naquela época, onde o Brasil busca reestruturar sua política, economia e vida social de um modo geral, o compromisso do intelectual brasileiro deve basicamente condizer e acompanhar as propostas dominantes.

Buscando inspiração também em artistas internacionais como Malevitch, Mondrian e Kandinsky, o movimento ganha força e novas idéias, fazendo com que houvesse o surgimento de grupos em São Paulo (Manifesto Ruptura – Waldemar Cordeiro) e Rio de Janeiro (Frente – Ivan Serpa). O abstracionismo então se torna auto-suficiente para apostar em novas vertentes: enquanto o abstracionismo de SP era baseado no geometrismo, na exatidão, eliminando qualquer vestígio de subjetividade, o do RJ era subjetivo, inexato e intuitivo. A partir desses dois grupos, o desdobramento crescia e novas idéias nasciam: concretismo, neoconcretismo, neoplasticismo, tachismo

Em geral, algumas mudanças prevalecentes se deram neste período: a busca por integrar a obra ao espaço (com a abolição da moldura), e da escultura ao espaço (com a abolição da base/suporte). A necessidade de integrar cada vez mais o espaço na obra é que se deu com Hélio Oiticica¹ por exemplo ao fazer “pinturas espaciais”. Nesta mesma época surgem outras figuras como Lygia Clark, que vem explorando a questão do espaço da obra X participante/espectador.

A pintura vai-se integrando ao espaço, mudando a moldura, deformando-as, recortando-as, sendo ela a própria obra e por fim utilizando-a por completa ao ponto de se fragmentar e igualar com o espaço: ser parte dele, trazendo a idéia de moldura recortada, tela esculturada, fragmentação do plano bidimensional, quadro auto-suficiente..

Os autores apontam também a necessidade da inventabilidade estrutural, lúdica, preenchendo a necessidade do espectador de deixar a passividade para fazer parte da obra criando, sentindo, interagindo, participando. Como Lygia Clark² fez com o “Bicho”.

Ao discorrer sobre o Abstracionismo informal, onde os artistas e pensadores sobre este movimento enfatizavam a vontade interior do artista em expressar algo ao exterior, é comentado pelos autores que a escolha de cores, traços, era algo subjetivo do artista, onde ele exprime energia e forças interiores, e isso gerou inúmeras críticas a ponto de dizerem que esses artistas informais não eram muito diferentes dos figurativos, pois apenas escondiam a figura, no fundo representavam algo além de críticas com relação e comparação ao tachismo.

As teorias se desdobraram e por fim tratava-se de uma ordem estética que guiava o artista a gerar sua obra, em suma, fatores como intuição, percepção, e modelos interiores e desconhecidos eram postos em prática moldando uma solução à obra. As obras do Abstracionismo informal não possuiam rigor técnico e altamente geométrico. É enfatizado no texto que o Informalismo não foi uma tendência nitidamente delineada, permitindo ao artista sua expressão individual e autônoma.

Baseando-se nos fatos apresentados pelos autores, podemos concluir que no Brasil, estas ramificações cresciam com novas defesas de idéias como subjetividade do artista assim como um diferente uso da cor (abstrair também a cor e não somente a forma), buscando assim uma ruptura e sua autonomia.

O Bicho - Lygia Clark




Hélio Oiticia - O Grande Núcleo



Bibliografia:

COCCHIARALE, F., & GEIGER, A. B. (1987). Abstracionismo geométrico e informal - a vanguarda brasileira nos anos cinqüenta. Rio de Janeiro: Funarte.

domingo, junho 26, 2011

RESENHA: THE PARKING LOT MOVIE



O que acontece quando são colocados músicos preguiçosos, estudantes de pós-graduação e outras mentes criativas lotadas de testosterona em um trabalho onde nada lhes é exigido, exceto sentar lá e recolher o dinheiro dos clientes? Colocando dessa forma parece uma descrição do Clerks (filme do Kevin Smith de 1994), mas estou falando de um documentário que, de um olhar afastado, aparenta ter sido preenchido como o depoimentode pessoas aleatórias.
“The Parking Lot Movie” é um documentário sobre a rotina de trabalho dos funcionários de um estacionamento da região central da cidade de Charlottesville, Virgínia. Rotina essa que abarca longos trechos de calmaria, quando não acontece muita coisa, mas há, de vez em quando, uma explosão de atividade, na qual muitas vezes exige um pouco de atitude, pelo fato de frequentemente aparecerem clientes irritantes negando-se a pagar os centavos de dólar exigidos pelos serviços prestados.

O estacionamento Corner, empreendimento em questão, é situado em uma pacata cidade universitária (Universidade da Virgínia), onde existe uma mistura de classes que se atrita nas noites de dias úteis e na vida noturna do fim de semana. Este estabelecimento é apresentado ao espectador com uma dosagem interessante de absurdismo e intelectualismo por conta dos entrevistados. Em suma, o lugar tem personalidade. E o mesmo acontece com o filme. Percebo neste documentário uma pegada antropológica, pois a diretora Meghan Eckman utiliza-se da linguagem ausiovisual para realizar um registro documental que fornece dados que extrapolam os conceitos materiais de cultura de uma sociedade, no caso os funcionários e ex-funcionários do estacionamento Coner e o depoimento deles sobre o trabalho prestado, assim como sobre as pessoas que frequentavam o estacionamento . Neste documentário, encontramos símbolos identitários que servirão de referência sobre este determinado grupo de pessoas durante o tempo em que prestam serviço para este empreendimento.
Este documentário nos apresenta um grupo de excêntricos funcionários composto por estudantes de pós-graduação, filósofos, aspirantes a músicos, tipos artísticos e homens de meia-idade preguiçosos.

Chris Farina, o proprietário do estabelecimento, é um chefe amigável que descreve seus empregados como um grupo desorganizado de poetas fraturados que preferem skates e bicicletas a carros. O simpático proprietário consegue encontrar algum tipo de equilíbrio zen entre os seus funcionários e seus clientes. Chris dá a seus funcionários carta branca para liberar sua energia criativa em trotes contra os clientes
indelicados.
Nas entrevistas os atendentes discorrem sobre sua performance de não fazer nada, assim como o feito de ficar mesmo com o rude, que os clientes que os tratam como seres inferiores. A desconcentração gradual do entusiasmo ao ressentimento destas pessoas que desenvolveram um auto-conhecimento suficiente para perceber que o tempo que prestam serviço para este estabelecimento é um processo interessante. Na tentativa de distrair-se do marasmo e da ociosidade, os atendentes divertem-se de qualquer forma, escrevem mensagens aleatórias sobre o portão do estacionamento, compõem canções, e até mesmo inventam competições bizarras. O portão do estacionamento é uma tábua que é adornada diariamente, pelos funcionários com escritos sobre aspectos existenciais do estabelecimento e curiosidades da cultura pop aplicada ritualmente com stencils e tinta spray. A Rotina dessas pessoas engloba violões, jogos bizarros inventados por eles mesmos e inscrições de graffiti sobre o que significa a arte de tornar um atendente de estacionamento.
Em suma, esse tempo que passam por lá acaba trazendo a essas pessoas o que fazem de melhor. Eles prestam seus serviços, mas não precisam gostar do cliente. Para eles é indiferente se você é um advogado rico, um mauricinho bêbado ou imbecil de alguma irmandade: eles apenas te julgam pelo automóvel que você dirige e como você o estaciona. Eles vêem a deliciosa ironia de alguém dirigir um Cadillac Escala de 70.000 dólares, tentando desesperadamente apertá-lo nas fendas dos pequenos espaços de estacionamento e depois tentar barganhar para não pagar a taxa de US$4,00 do estacionamento. Eles poderiam explicar porque cliente tem que pagar, poderiam explicar os fundamentos do capitalismo, se quisessem, mas principalmente eles riem desse tipo de cliente.
Eckman criou um banco de dados coletando entrevistas destes atendentes que frequentemente são reclamações pontuando aspectos sobre sua rotina de trabalho, ocorrências do dia-a-dia e a natureza da humanidade. Esta atividade, por envolver o uso da imagem dentro de um processo de estudo da alteridade, integra-se no campo da antropologia visual, na medida em que um acervo de imagens é construtor da memória cultural e histórica destas pessoas. Através das entrevistas com ex-funcionários que se deslocaram percebemos em seus depoimentos que este tempo empregado ao estacionamento foi uma espécie de rito de passagem que lhes ofereceu uma perspectiva de Zen. Como um manobrista lamenta, “Tínhamos tudo em um mundo que não tinha nada a nos oferecer.” Percebemos nestas questões códigos do realismo, adaptados ao contexto das imagens igualmente encontrados em materiais produzidos no âmbito da Antropologia .

Bibliografia

BARBOSA, Andrea; CUNHA, Edgar Teodoro da. Antropologia e imagem. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editores, 2006.

Site

http://www.theparkinglotmovie.com - último acesso: 23/05/2011.
Filmografia
The Parking Lot Movie
FICHA TÉCNICA
Diretor: Meghan Eckman e Christopher Hlad
Elenco: - documentário -
Produção: Meghan Eckman
Roteiro: Meghan Eckman
Fotografia: Meghan Eckman e Christopher Hlad
Duração: 96 min.
Ano: 2010
País: EUA
Gênero: Documentário
Cor: Colorido
Distribuidora: Não definida
Classificação: 14 anos

segunda-feira, junho 13, 2011


METAL: UMA JORNADA PELO MUNDO DO HEAVY METAL
Metal: Uma Jornada Pelo Mundo Do Heavy Metal (Metal A Headbanger's Journey,Canadá 2005) é filme do gênero de documentário dirigido pelo antropólogo canadense Sam Dunn, que desde o início do filme deixa explícita sua paixão pelo heavy metal,genêro musical pelo qual o antropólogo alega ter se apaixonado por volta de seus 12 anos de idade em 1986. Após se formar em antropologia, Dunn vem defendendo com todas as suas forças o heavy metal. Em função disto, decidiu partir em uma jornada pela Inglaterra, Alemanha, Noruega e algumas cidades dos Estados Unidos para explicar o fato deste gênero musical ser tão amado e odiado ao mesmo tempo. Nesta empreitada Dunn busca algumas das respostas para suas instigantes dúvidas sobre o heavy metal.
Dunn justifica que a antropologia se volta para o estudo da alteriedade, entre as diferentes formas que as sociedades encontram para ordenar as suas relações através de símbolos, representações e crenças, entre as diferentes referências pelas quais os indivíduos dão sentido a seus atos. A partir daí, seu objetivo, nesta pesquisa em formato de documentário, é entender o porquê da comunidade metaleira (fãs do gênero músical heavy metal) ser constantemente estereotipada, repelida e condenada. Entretanto, esta tribo, que resistentemente ama o heavy metal mantém-se firme, difundindo a palavra, mantendo a fé e adotando estilos e atitudes que vão além da música.
A antropologia desvia um pouco o olhar da idéia mais consolidada sobre ciência (generalização, "numerificação") e passa a se ver mais como um empreendimento compreensivo das singularidades culturais postas em contato, no sentido de construção de uma humanidade através do diálogo. Neste documentário, o antropólogo consegue apresentar esta cultura através de uma linguagem simples e bem detalhada. Detalhes históricos e técnicos são revelados, como a origem do gênero, sua relação com religião, sexo, como ele consegue ter uma incrível legião de fãs fieis e drogas, entre outros. Dunn retratou o metaleiro de uma maneira diferenciada da forma que a imprensa usualmente costuma tratar, pois optou por não trazer estereótipos seja de quem for: as imagens surgem com os próprios personagens, que contam a história do estilo, opinam sobre a relação de amo e ódio ao Metal, e ainda caracterizam os diferentes gêneros aos quais pertencem.
O cieneasta consegue desmitificar com fatos a preconceituosa questão de que heavy metal costuma ser visto como uma música barulhenta e praticada por entusiastas. Ao estudar suas raízes, Dunn comprova que o heavy metal é uma combinação do blues norte-americano com as escalas altas operísticas de Richard Wagner. Os membros das bandas são em sua grande maioria músicos que dominam seus instrumentos com excelência.
Através de vídeos e cenas de shows, o espectador tem a oportunidade de visualizar osargumentos defendidos pelo antropólogo. Dunn tem sua jornada iniciada no Wacken Open Festival Open Air Festival, o mais importante festival de heavy metal do mundo. Nestas sequências de imagens ele conseguiu captar muito bem a essência e principalmente a magia que o metal proporciona a seus fãs.
Todo o material é sustentado com entrevistas com sociólogos, críticos, produtores, fãs e os músicos. Esse último grupo talvez possa causar grande surpresa. Impressiona a maneira articulada com que Vince Neil (Mötley Crüe), Geddy Lee (Rush), Bruce Dickinson (Iron Maiden), Ronnie James Dio (Dio), Tommy Iommi (Black Sabbath), Lemmy (Motorhead), Alice Cooper, Dee Snider (Twisted Sister) e Rob Zombie (White Zombie), entre outros, falam sobre diversos assuntos que envolvem o heavy metal.
Este documentário primeiramente é o resultado de um trabalho de etnografia no mundo artístico do gênero musical heavy metal. Em seguida, é uma tentativa de compreensão da questão nativa encontrada em campo: por que o heavy metal, apesar de sua importância no panorama cultural, é no mundo artístico um tabu, dos mais discriminado ao redor do mundo? Dunn consegue responder estas questões ao se enquadrar na prática antropológica comum de observar as culturas por meio da participação, defendendo a mensagem central do filme: que a cultura ocidental preponderante não compreende os fãs do heavy metal.



Bibliografia:
BARBOSA, Andrea; CUNHA, Edgar Teodoro da. Antropologia e imagem. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar Editores, 2006.
Site:
http://www.imdb.com/title/tt0478209/ - acessado dia 22/05/2011
Filmografia:
Metal: Uma Jornada Pelo Mundo Do Heavy Metal (Metal A Headbanger's Journey)


FICHA TÉCNICA

Diretor: Sam Dunn, Scot McFadyen, Jessica Joy Wise
Elenco: - documentário -
Produção: Sam Dunn, Scot McFadyen
Roteiro: Sam Dunn, Scot McFadyen, Jessica Joy Wise
Fotografia: Brendan Steacy
Duração: 96 min.
Ano: 2005
País: Canadá
Gênero: Documentário
Cor: Colorido
Distribuidora: Não definida
Classificação: 14 anos