PINTURA REENCARNADA. Texto de Angélica de Moraes. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo: Paço das Artes, 2005.
Resenha: Pintura Reencarnada
Angélica de Moraes é crítica de artes visuais, curadora independente e jornalista cultural. Possui formação em Jornalismo pela PUC-RS (Porto Alegre), cursou pós-graduação em Artes Visuais Teoria e Praxis (PUC-RS) e mestrado em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, sob orientação da Profa. Lucia Santaella. Moraes atuou como curadora da coletiva “Pintura Reencarnada” (maio-julho de 2004, Paço das Artes). O texto discutido nesta resenha integra o catálogo da mostra.
A exposição contou com a participação de Marcela Tiboni, Alex Flemming, Aluísio Carvão, Amélia Toledo, Artur Lescher, Elida Tessler, Hélio Oiticica, Luis Hermano e Lygia Pape, além de trabalhos inéditos de Albano Afonso, Bill Viola, Lucia Koch, Nelson Leiner e Rachel Rosalen.
A curadora inicia sua discussão indagando sobre o lugar da pintura na arte contemporânea, uma vez que no passado não foram escassos os anúncios da morte da pintura. A partir daí, a autora apresenta seus argumentos contrariamente a essa afirmação, alegando que a pintura não morreu, mas sim foi reencarnada.
Moraes afirma que essa discussão histórica sobre a morte da pintura teve início no século XX, com as vanguardas russas. Em seguida, usando de base os artistas que participaram da mostra, somos instigados a uma reflexão sobre a mutação da matéria pictórica contemporânea que iniciou seu percurso com características e conceitos identificados sobre a migração da cor e que na atualidade transita em pixels, feixes de luz, impulsos e sensores elétricos. De maneira assertiva, a autora coloca em seus exemplos que o pensamento pictórico continua presente em outros suportes como o vídeo, as instalações e a fotografia.
A autora defende que a pintura reencarnada é um fenômeno em processo de cristalização desde a metade do século passado. Entretanto, atualmente este processo é mais evidente graças à perspectiva de tempo e à visibilidade dos chamados novos meios. Em suas palavras, a video-arte é contraditoriamente, onde melhor se pode identificar, essa herança genética pesadamente material e cheia de espessura histórica vinda da pintura.
Em seguida a autora esboça um histórico dos falsos anúncios da morte da pintura. O primeiro alerta veio com a invenção da fotografia, há quase 200 anos. A fixação da imagem do mundo sobre o papel fotográfico desestabilizou a pintura moderna, colocando em suspensão sua função de representação da realidade. A resposta das vanguardas foi implacável e começou com as três telas monocromáticas de Alexander Rodchenko, anunciando o fim dos valores tradicionais do ofício: não havia mais figura, fundo, nem representação. Depois, seriam outros a quebrar os paradigmas, como Mondrian, Duchamp, até surgir, no Brasil, Aluísio Carvão e a geração de neoconcretistas que projetaram vibrações cromáticas para além da superfície plana da tela. A experimentação que decorreu o início da fotografia, do cinema e do vídeo contaminou também a relação dos artistas com a pintura.
A autora alega que o artista conteporâneo não limita-se às métricas da pintura de outrora, conseguindo assim lidar consecutivamente com os contínuos decretos da morte da pintura no século XX. Somente desse modo é possível criar história ao invés criar justificativas para a continuidade da arte.
Em suma, a intenção curatorial de Moraes nos conduz a um exercício de reflexão, levando-nos a concluir que, ao contrário do que se possa crer, antes de decretar a morte da pintura, deve-se antes observar os novos espaços que estão sendo definidos para ela na arte contemporânea.